segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Envelheço

Se eu pudesse mataria minha velhice; matar-me-ia!
(maldita gramática cheia de quinquilharia)

Hoje amanheci desconsolado,
olhei os vestidos, aqueles antigos vestidos amarelados;
verifiquei a quantidade de melancolia, vi a sujeira embaixo dos sapatos
eu não estava ali
nada me pertencia

Era de outra pessoa,
Não minha. Pertencia àquele jovem que festejava ao som de bêbados errantes, àquele jovem que adormecia e não acordava moralista.

Olhei as roupas antigas e neste olhar avistei o único terno empoeirado e nada me pertencia

Acordei comido pelas horas, e não tolerei o barulho da rua, pois o tempo não parou para contemplar minhas angustias, os carros não me sinalizaram quando me viram indo a uma estrada antiga.

As horas me penetraram.
Atingiu a saudade e alojou-se em meu ventre agora Encarnado.
Eu estava desnudo quando afligi Minh’ alma

Olhei-me e vi um rosto enrugado, esquisito e fechado.
Nada me pertencia, nem outrora a juventude que me animava.
o agora já era passado e o que me comia mudou de nome,
o que me comia era o Nada. Convalescente e Destemido Nada.
o que me feria eram as malditas horas que insistia
em me levar diante do armário cheio de brinquedos calados

o que me resta? aquela senhora paixão
nostálgica perante a navalha cortante

senhora paixão de semblante sereno
leva-me o sangue antes do primeiro corte.

Seria o Corte frustrante?

diante do espelho,
cheio de clichês,
eu esmago uma última lágrima

para findar como filho único neste ventre cheio de horas.