sexta-feira, 20 de junho de 2008
Carta de Virginia Woolf
Não creio que duas pessoas pudessem ser mais felizes até chegar esta doença terrível. Não consigo mais lutar. Sei que estou estragando a sua vida e que sem mim você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Está vendo, nem consigo mais escrever adequadamente.
Não consigo ler. O que quero dizer é que devo a você toda a felicidade da minha vida. Você foi absolutamente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer isso — e todo mundo sabe. Se alguém pudesse me salvar, teria sido você.
Perdi tudo, menos a certeza da sua bondade. Não posso mais continuar estragando sua vida.Não creio que duas pessoas tenham sido mais felizes do que nós fomos.
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Virginia Woolf
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Incompreensão
A vi sentada com sua saia cheia de fibras;
recortes de jornais em cada linha;
trançados de larvas mastigadas.
A vi beber absinto,
alecrim
um caldo de camomila escura [...]
Outras Senhoras bebiam e diziam a farsa daquela ladainha.
Cafetina!
“Elas viam o pecado sagrado embaixo dos vestidos rosados”.
Dormi!
Sempre busquei no olhar das pessoas aquele restinho de café, aquele cheiro de bitucas de cigarros que me deixava com a alma fria.
Eu vi no olhar daquela mulher a tristeza profunda, o grito silenciado e a felicidade resguardada.
Fui noiva sem vestido.
Fui Virgem sem amado.
Fui fuga dos sonhos que se perderam em ruas fúteis cheia de partes femininas> Partes “íntimas” de Mulheres vendidas e caladas.
Eram senhoras com nomes iguais> Todas se chamavam Aparecida. [...]
Fui borboleta.
O Azul da idéia.
O negro da raça.
Fui menina. Mulher e simpatia.
Fui o diabo rosa;
De salto alto
de vestido vermelho,
batom espesso e pés alados.
Então eu previ:
"A vida é uma sugestiva precisão de abraços mortíferos;
de feras aladas que ressuscitaram dos mitos guardados;
por velhos mesquinhos que se consideravam amaldiçoados".