sexta-feira, 23 de maio de 2008

Asas suicidas

Uma neblina branca encobriu a cidade.
Nós a vimos, começamos a sentir. Houve sinais. E então choveu.

Choveu corpos. Choveu poetas.
[...] Em cada rosto ensangüentado um leve sorriso.
Os corpos quebrados nas calçadas sorriam.

Apenas um homem não sorriu naquele momento.
Pois ao saltar criou asas e por cima da neblina soube voar.



quarta-feira, 21 de maio de 2008

Alma Negra.






Quero um anjo da guarda negro.
Um anjo que me fizesse um "Bem" negro.
Um anjo que ouvisse as minhas preces negras.
Que me seguisse por caminhos negros.
Um protetor com armaduras negras.
Com as mãos fecundadas de bênçãos Negras.

Eu sou Negro. Quero coisas de pessoas negras.

Vestiram-me de branco na Igreja.

"Não faça isso seu padre. A Criança é Negra.
E a Graça não é branca.
Crianças negras têm o direito de terem um Deus negro”.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Bailar das Palavras Negras.



Os pensamentos caminham na insensatez de meus dedos inchados.
Os dedos deixam marcas. A nicotina aprofunda nas fibras.
As mãos trêmulas tentam acompanhar as palavras.
Soltas.
Soltas nas entrelinhas de um caderno amassado.
Soltas em uma história massacrada.
Pano Rasgado.
Sem forma.
Tenho que mastigar a vida ao sabor de vinho "vinagrado".
Encontro o eu - poeta em passo peculiar, inofensivo.
Encontrei o invisível além das coisas visíveis. Encontrei o bailar.
A noite realmente era negra.
O negro era a beleza. A estética perfeita.
Surgiu o dançar de pés alados.
Amei as curvas. A silhueta no escuro. Amei os rabiscos na folha.
E eu só queria beber intensamente sem nenhuma dor.
Tenho preguiça.
O escuro é um mito.
O poeta.
A Fumaça.
Estresse.
Cacos e Comprimidos.
Dor!
Insônia.
Manicômio.
Tenho que fugir.

Amei o cheiro da arte.
Amei o corte, os cabelos molhados.
Amei a bailarina quase adormecida.
Pés frágeis. Pés de porcelana.
A vi dentro da caixinha dourada. Ela pensa. Cria. A bailarina tem sentimentos de nostalgia.
Ela chora o fim do espetáculo. Ela voltará para o escuro. Longe da vista do "eu" amado.

Vidros. Cacos. Pulsos. Cacos. Sangue. Cigarros.
Tenho preguiça. Fraqueza. Pobreza.
A minha saia era distorcida. Fraca. Pano enferrujado.
Bailarina escondida. A sua arte é ofensiva; assim diziam.
Meu corpo, por outro lado, é incorruptível. Porém estou emparedado em relevos desenhados.
O movimento do rabisco cortou. Pulsos. Cacos. Fogo. Forca na encruzilhada.
O poeta sentou e fez seu último trabalho.
Corte seco. Vermelho opaco.
No quarto escuro apenas um corpo desconsolado.
Sangue quente misturado com o timbrado.