terça-feira, 20 de maio de 2008

Bailar das Palavras Negras.



Os pensamentos caminham na insensatez de meus dedos inchados.
Os dedos deixam marcas. A nicotina aprofunda nas fibras.
As mãos trêmulas tentam acompanhar as palavras.
Soltas.
Soltas nas entrelinhas de um caderno amassado.
Soltas em uma história massacrada.
Pano Rasgado.
Sem forma.
Tenho que mastigar a vida ao sabor de vinho "vinagrado".
Encontro o eu - poeta em passo peculiar, inofensivo.
Encontrei o invisível além das coisas visíveis. Encontrei o bailar.
A noite realmente era negra.
O negro era a beleza. A estética perfeita.
Surgiu o dançar de pés alados.
Amei as curvas. A silhueta no escuro. Amei os rabiscos na folha.
E eu só queria beber intensamente sem nenhuma dor.
Tenho preguiça.
O escuro é um mito.
O poeta.
A Fumaça.
Estresse.
Cacos e Comprimidos.
Dor!
Insônia.
Manicômio.
Tenho que fugir.

Amei o cheiro da arte.
Amei o corte, os cabelos molhados.
Amei a bailarina quase adormecida.
Pés frágeis. Pés de porcelana.
A vi dentro da caixinha dourada. Ela pensa. Cria. A bailarina tem sentimentos de nostalgia.
Ela chora o fim do espetáculo. Ela voltará para o escuro. Longe da vista do "eu" amado.

Vidros. Cacos. Pulsos. Cacos. Sangue. Cigarros.
Tenho preguiça. Fraqueza. Pobreza.
A minha saia era distorcida. Fraca. Pano enferrujado.
Bailarina escondida. A sua arte é ofensiva; assim diziam.
Meu corpo, por outro lado, é incorruptível. Porém estou emparedado em relevos desenhados.
O movimento do rabisco cortou. Pulsos. Cacos. Fogo. Forca na encruzilhada.
O poeta sentou e fez seu último trabalho.
Corte seco. Vermelho opaco.
No quarto escuro apenas um corpo desconsolado.
Sangue quente misturado com o timbrado.

4 comentários:

K. R. Araujo disse...

Suas palavras me tiram o folego, mostram que a mediocridade não tem vez na mente de poetas assim, não precisa de rimas, nem de filosofias repetidas, amo sua arte. SEMPRE.

Raphael Primos disse...

Seu texto dói, tem cheiro de sangue mas é preto e branco. Seu poema é só uma fragmento de sua carne mutilada. é um dna de suas paixões e temores. A foto me lembrou as cantigas de candomblé. Estilo " o sobrado de mamãe é de baixo d'agua, é de baixo d'agua por cima da areia, tem ouro, tem prata, tem diamante que nos alumeia". Continue.

Raphael Primos disse...

Gente, qual a periodicidade do blog? quero coisas novas..hein hein..vou cancelar a assinatura.
bjus querido!

Lírios, Lótus e Alecrim disse...

Sei que a alma ilude.Que o tempo passa, as folhas caem e as flores nascem.A vida passa.Pra quê adiantar a morte?Não dizem que ela é a única certeza que temos?Se já a temos, para que repetí-la e exaltá-la?Exalto a vida, que é a única coisa capaz de me fazer descobrir arte até no lixo.Vida.Sangue.Trancendência.