domingo, 29 de abril de 2012
Fibras de mim
Na Rua das Camélias o diabo veste rosa. Olhou-me, calçou-me e vomitou em mim amores incompreensíveis. O perfume ainda se encontra em minha calça, em meus finos panos... a lágrima daquele olhar ainda permanecerá em meu zíper - tão discreta ao limpar os lábios.
Não me olhe, vaidosa criatura. Não me coma com estes olhos... não me alimente com estes lábios...
O poeta não se vê!
Pula a janela, mas cria asas. Finge tão bem que o fingimento se torna verdade. O poeta não enxerga as linhas e nas entrelinhas não há mais nada. Apenas o sentimento aguçado de que do nada acontecerá novas fantasias. E de sentimento nada sente. Sentimentos são abstratos... condenados!
sábado, 28 de abril de 2012
devaneios... e mais um pouco.
Navalhou não apenas o corpo, mas os sentimentos. Há razão para te dizer te amo? Coma-me, mas me vomite no dia seguinte. Sem exemplos, sem disciplina... Virginia ainda me usa, usando-me naquele vestido desbotado. O cigarro ainda é o sexto dedo e a mente o inimigo que me prende nesta rede de trapaças sentimentais.
Eu vi a curva, a silhueta magra na penumbra, vi o gosto, o hálito sentido, mas não me vi.
Agora me contorço com este amigo prolixo chamado tempo. Tão abstrato e impossível de ser desenhado. Desenho que ignoro por não me entender.
sábado, 14 de abril de 2012
Anne...
Simplesmente me deixo cair,
E que ninguém me impeça de sambar até o fim.
Eu queria um pouco mais de açúcar no chá das cinco. Tenho dúvidas em relação ao sabor da vida, tenho medo de conquistar só aquilo que vejo, e descrever os sentimentos em ângulos tão proibidos pela minha consciência, sugere-me épocas de pouco sol. Levantei-me duas vezes para tomar café. Estava amargo!
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Messalina (...)
O dinheiro perdeu o valor na cintura.
Suspirou! O que era? Uma simples lembrança.
Deixou-se voar, os pensamentos a consumia; quietou-se naquele espaço a olhar o céu escuro e estrelado, ela esperava o telegrama de algum desconhecido, talvez algum homem de bom agrado, e naquelas horas, ainda de madrugada, veria no próprio olhar a inocência de uma menina com bonecas de porcelana no colo. As lembranças fariam milhões de burburinhos – não havia crise, nem tentativas de suicídio; aquele mundo, unicamente aquele pedacinho de vida a desejava – estava iluminada pelos estranhos transeuntes que buscavam caridade pelo beco.
As ruas despejavam seios, ofereciam todo atrativo de uma cidade amarga e suja, as ruas me chamavam, queriam-me para pagar o preço da sujeira. Tudo em perigo constante, até em dias de cereais e café com leite desnatado – Ela desejava a noite anterior, o desejo de se encontrar novamente lambuzada numa sacanagem seca e ardida... livro e cigarrinho: o essencial para aquela noite. Balbuciou! Era ainda uma criança na terra barrenta. (Todos os sentimentos são tolos e imaturos, um meio inocente de Deus nos mostrar a fragilidade da alma).
A vida se assemelhava a um filme pornô, uma mera novela repetida às cinco da tarde. Nenhum livro ousaria liquidificar o enredo. Gargalo! Copo de absinto bem fresco. Eu enfrentei o diabo e suas cicatrizes noturnas e daí para frente o gosto de pagar pelas pernas da negra e não lambê-las.
