segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Beleza


Clarissa não era branca, nem negra, era aguada como um amanhecer cinza. Pescoço comprido e cintura fina. Não tinha lábios pequenos, mas obtinha um nariz protuberante, não aquilino, mas pontudo, mas nada comparado a caroços de feijão - era reto e firme. O andar era tropeçado, com movimentos para a direita, mais para direita do que para esquerda, os cabelos sempre para os lados, trançados até os ombros, diriam, alguém de olhar despercebido, de que Clarissa era uma moça feia, mais voltada para o convento do que para as prostitutas da Rua Quinze, porém estariam enganados, pois a beleza dela estava nos olhos, olhar longínquo, profundos e melancólicos. Diria que ela tinha um olhar choroso, madrugado e sedento de vida.


quarta-feira, 11 de julho de 2012

Escorro.

Tempero doce.
Alimentei-me de sua cicatriz. Bem entre... Dentro. Saboroso de sua mente.
Daquelas pernas palpáveis. Daquela senhorita de beijos falsos pagos por cigarros mentolados
Tempero Amargo.
E no fim do ambiente, calou-se. Atirei meu branco em sua boca. Nascera!
Nasceu um filho condenado.
Nascera o poeta mentolado
Morrera o infeliz com gilete nos lábios.
Tempo oral silenciado.
Tabaco e gemidos.
Fumei suas pernas.
Adentrei.
Alisei.
Enlouquecido embaixo do vestido desbotado.



segunda-feira, 18 de junho de 2012

E o livro?

Se eu soubesse... caso existisse a possibilidade de saber, nunca teria começado a escrever.
O tempo é fútil - a vida é. Caçando-me em cada entrelinha indesejada. Em cada caçoar de erro ortográfico.
Não tendo nada - não me tenho. Hoje tentei escrever o "Sexto Dedo", mas cansa-me só de pensar que terei que retornar em algo ainda sem prólogo. Estou à beira do desconhecido. À beira do ostracismo.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O Caldo!!!

De onde tirou isto??? Sou o holocausto dos próprios sentimentos. A ruína dos prazeres sem prazer... O Objeto fálico calado. Calando-me!!!  Onde? Por onde???  Sou pecador cristão??? “No início pensei em risos – que lessem as gargalhadas contidas neste livro, mas depois de um tempo percebi que não conseguiria, então pensei num choro, tão amargo quanto de Perséfone ao ser raptada pelo Deus sombrio.”

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Um novo capítulo

Dificuldades em escrever!
Hoje me sento pela primeira vez para escrever sobre Gabriele, Antonia, Dr. Vezet. Os personagens estão tomando a minha vida. Hoje pela manhã tomei café com a jovem Emile. Ela me olhou e disse: Termine!
O fantasma do passado agora se torna presente. A casa não suporta tanta gente. São bizarros, alegóricos e espectrais. Antes era para ser uma comédia, mas agora se tornou uma linda tragédia. Espero conviver com este Cheiro do Tabaco.

Por que me frustro toda vez que tenho que escrever sobre Eles? 

sábado, 5 de maio de 2012

Mentiu

Simplesmente - mente!
Entrou em meu jardim
Descrente!
Roubou-me as rosas
Pisoteou-me os lírios
Inocente Cristo!
Que Cisto?
Mentiu
Mentiu
Mentiu
Feriu!

Marks William

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Devaneios...


Modigliani me interrompeu dizendo que não pintaria os meus olhos. Virginia não quis mais papear e Mariana ainda se esconde em meus livros.
Acho que vi Murilo Rubião gargalhar naquele canto escuro da sala, outrora, meu lugar preferido nesta festa.
Assim falou Zaratustra: "Qué fuma?" E eu já me perdi em tantos tabacos... Olhei para o lado esquerdo da mesa e cuspi três prazeres: Beijos, Lágrimas e Literatura.

Levante o vestido. Deixe bater a água nos tornozelos. Encha os bolsos de pedra e precipite-se na luta perdida contra a vida.
Quantas vezes tentarei a vida? Quantas pedras? Quantos riachos?
E não me amou mais. Não me quis. Alecrim!

Cansei-me de ser um arlequim.

domingo, 29 de abril de 2012

Fibras de mim

Há anos te vejo... sem nunca te ver.
Na Rua das Camélias o diabo veste rosa. Olhou-me, calçou-me e vomitou em mim amores incompreensíveis. O perfume ainda se encontra em minha calça, em meus finos panos... a lágrima daquele olhar ainda permanecerá em meu zíper - tão discreta ao limpar os lábios.
Não me olhe, vaidosa criatura. Não me coma com estes olhos... não me alimente com estes lábios...
O poeta não se vê!
Pula a janela, mas cria asas. Finge tão bem que o fingimento se torna verdade. O poeta não enxerga as linhas e nas entrelinhas não há mais nada. Apenas o sentimento aguçado de que do nada acontecerá novas fantasias. E de sentimento nada sente. Sentimentos são abstratos... condenados!

sábado, 28 de abril de 2012

devaneios... e mais um pouco.

O tempo me vasculha... vasculhando-me!
Navalhou não apenas o corpo, mas os sentimentos. Há razão para te dizer te amo? Coma-me, mas me vomite no dia seguinte. Sem exemplos, sem disciplina... Virginia ainda me usa, usando-me naquele vestido desbotado. O cigarro ainda é o sexto dedo e a mente o inimigo que me prende nesta rede de trapaças sentimentais.

Eu vi a curva, a silhueta magra na penumbra, vi o gosto, o hálito sentido, mas não me vi.
Agora me contorço com este amigo prolixo chamado tempo. Tão abstrato e impossível de ser desenhado. Desenho que ignoro por não me entender.

sábado, 14 de abril de 2012

Anne...

Ela me despia... Despia minha alma.
Gaguejei com porcarias entre os dentes. Eu diria aquilo que melhor sabia fazer: Poesia.
Se eu caio não me lamento;

Simplesmente me deixo cair,

E que ninguém me impeça de sambar até o fim.

Eu queria um pouco mais de açúcar no chá das cinco. Tenho dúvidas em relação ao sabor da vida, tenho medo de conquistar só aquilo que vejo, e descrever os sentimentos em ângulos tão proibidos pela minha consciência, sugere-me épocas de pouco sol. Levantei-me duas vezes para tomar café. Estava amargo!

As pernas se descruzaram, os olhos brilharam, e daquele jeito de menina séria, tudo meio oblíquo, ela me convidou a entrar... eu entrei!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Messalina (...)

“Trágico o dia que não há sequer uma ponta de alegria esfumaçando sobre os lábios”.

A personagem se desnuda no silêncio das angustias. Virginia abriu as vidraças e deixou o ar mergulhar nos pulmões. Que fresco! Ela estava ansiosa, mas não era desejo que sentia, era unicamente o vento, suave, quase solene. O velho sisudo, marcas fortes de navalha no rosto, ajeitou-a, aconchegou – se no vão do vestido e penetrou. Condição humana: Magnitude e pequenez – dois rios que seguem uma mesma rota deslumbrante.

O dinheiro perdeu o valor na cintura.

Suspirou! O que era? Uma simples lembrança.

Deixou-se voar, os pensamentos a consumia; quietou-se naquele espaço a olhar o céu escuro e estrelado, ela esperava o telegrama de algum desconhecido, talvez algum homem de bom agrado, e naquelas horas, ainda de madrugada, veria no próprio olhar a inocência de uma menina com bonecas de porcelana no colo. As lembranças fariam milhões de burburinhos – não havia crise, nem tentativas de suicídio; aquele mundo, unicamente aquele pedacinho de vida a desejava – estava iluminada pelos estranhos transeuntes que buscavam caridade pelo beco.


As ruas despejavam seios, ofereciam todo atrativo de uma cidade amarga e suja, as ruas me chamavam, queriam-me para pagar o preço da sujeira. Tudo em perigo constante, até em dias de cereais e café com leite desnatado – Ela desejava a noite anterior, o desejo de se encontrar novamente lambuzada numa sacanagem seca e ardida
... livro e cigarrinho: o essencial para aquela noite. Balbuciou! Era ainda uma criança na terra barrenta. (Todos os sentimentos são tolos e imaturos, um meio inocente de Deus nos mostrar a fragilidade da alma).

A vida se assemelhava a um filme pornô, uma mera novela repetida às cinco da tarde. Nenhum livro ousaria liquidificar o enredo. Gargalo! Copo de absinto bem fresco. Eu enfrentei o diabo e suas cicatrizes noturnas e daí para frente o gosto de pagar pelas pernas da negra e não lambê-las.